terça-feira, 18 de novembro de 2014

Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie [projeto "O Mundo em Palavras - Lendo a África]

Já faz algum tempo que eu queria ler alguma coisa da Chimamanda. Há um pouco mais de um ano, eu assisti o vídeo com a sua palestra no TED sobre os perigos da história única (se você não assistiu, clique aqui), e eu fiquei extasiada com a fala dela. Fiquei sabendo da publicação de Americanah na mesma época em que comecei a planejar meu projeto literário “O Mundo em Palavras”, onde vou escolher alguns livros de cada continente, tentando diversificar a origem das minhas leituras. A primeira parte do meu projeto é “Lendo a África”, que acaba de ser inaugurado com a leitura de Americanah.

Americanah
Americanah



            Chimamanda Ngozi Adichie é nigeriana e cursou o ensino superior nos EUA, como a personagem principal do seu livro, Ifemelu. Decidida a retornar para Nigéria após mais de 10 anos nos EUA, Ifemelu procura um salão para trançar os cabelos, processo demorado que permite diversos momentos de digressão, onde relembra diversos momentos da sua vida, tanto na Nigéria, quanto nos EUA.

            Sobre sua infância ela relembra das transformações da religiosidade de sua mãe, o momento em que seu pai ficou desempregado, sua relação fraterna com a tia Uju. Também relembra de Obinze, seu grande amor, quando se conheceram ainda adolescentes, todos os planos que faziam juntos, suas conversas sobre literatura enquanto Obinze cozinhava com a mãe, mulher que se tornou referência para Ifemelu. 
           
            Obinze e Ifemelu entram para a mesma universidade na Nigéria, mas a série de greves e problemas administrativos atrapalhavam a continuidade dos estudos, e Ifemelu tenta uma possibilidade de bolsa de estudos nos EUA. Ela consegue e com ajuda da tia Uju que já estava morando lá, Ifem deixa os pais, o país e Obinze, e recomeça seus estudos nos EUA e consequentemente uma nova vida. 

            No início de sua temporada estadunidense ela passa diversas dificuldades, não consegue emprego, tem problemas de convivência com as outras meninas que ela divide o apartamento, passa por uma depressão, e no meio desse turbilhão ela se distancia de Obinze, não atendendo mais seus telefonemas, nem respondendo suas cartas.

Durante os anos que passou nos EUA, Ifemelu se confrontou com uma realidade estranha, que a fez se perceber como negra, que a provocou a pensar sobre questões raciais e culturais. Para externar suas impressões, Ifem criou um blog, onde colocava suas reflexões sobre a sociedade estadunidense a partir do seu ponto de vista, de um negra não-americana.  Os textos de Ifemelu são um soco no estômago necessário para nos fazer acordar para o disparate de determinados comportamentos racistas que estão enraizados na sociedade americana (e muitas vezes na sociedade brasileira também). Americanah também nos apresenta a Nigéria e as mudanças desse país, o retorno dos nigerianos que estudaram em outros países, a entrada de capital estrangeiro, as transformações culturais.

“Querido Negro Não Americano, quando você escolhe vir para os Estados Unidos, vira negro. Pare de argumentar. Pare de dizer que é jamaicano ou ganense. A América não liga,”

“Eu tinha lido que o Brasil é a meca das raças, mas quando eu fui ao Rio, ninguém que estava nos restaurantes e hotéis caros se parecia comigo. As pessoas reagem de forma estranha quando eu vou para a fila da primeira classe no aeroporto. É uma reação de simpatia, como quem diz você está cometendo um erro, não pode ter essa aparência e viajar de primeira classe.”


Americanah é um livro necessário. Além de ser escrito belamente, ele coloca o dedo na ferida e mostra que o sonho americano pode ter suas facetas de pesadelo.   



Esse post faz parte do projeto "O Mundo em Palavras", para saber mais, clique aqui.


3 comentários:

  1. Parece emocionante e totalmente comovente. Eu não tive a oportunidade de ler, na verdade, nunca tinha visto e fiquei muito interessada, claro.

    M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista. São 6 livros para escolher, kit de marcadores e 3 ganhadores.

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  2. Fiquei muito curiosa pra ler. Me lembrou Pequena Abelha do Chris Cleave. Amo literatura sobre povos. Vou te seguir ta? Espero tua visita.
    Beijos

    dancadasbolhas.blogspot.com.br/

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  3. Uau! Eu também vi a palestra da Chimamanda sobre a história única e foi assim que conheci ela e pelo visto, além de falar bem ela escreve bem e não decepciona na forma como enxerga a sociedade. Como não concorda com o ponto dela sobre o Brasil e sua forma de lidar com a diversidade étnica da população? Até me arrepiei como porque sim, esse tipo de discussão mexe comigo.

    Como sempre uma ótima resenha Fran, que saudades daqui!

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