quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O Clube do Livro do Fim da Vida - Will Schwalbe

Você já participou de um Clube do Livro? Sabia que é possível criar um clube do livro com apenas duas pessoas, e em contextos adversos e até dolorosos? É isso que Will Schwalbe nos mostra no seu livro “O Clube do Livro do Fim da Vida”, que conta a sua história pessoal e seu relacionamento com sua mãe, tendo como fio condutor os livros que liam. É uma história tocante (principalmente para aqueles que acreditam no poder dos livros) sobre a vida de uma mulher incrível: Mary Anne Schwalbe.




Logo no início do livro descobrimos que Mary Anne, mãe do Will, está doente e que a perspectiva de morte é certeira e próxima. Mas entre um café mocha e outro no ambulatório, vamos conhecendo o relacionamento de mãe e filho, e o nascimento inesperado de um Clube do Livro entre os dois durante as sessões de quimioterapia.

...onde quer que minha mãe e eu estivéssemos em nossas jornadas individuais, ainda podíamos compartilhar livros, e enquanto estivéssemos lendo esses livros não seriamos a pessoa doente e a pessoa saudável; seriamos apenas uma mãe e um filho adentrando novos mundos juntos.”

O livro nos apresenta a uma pessoa incrível, que leu muito e fez muito durante toda a sua vida. Mary Anne trabalhou a vida inteira para ajudar refugiados de regiões em guerra, sendo a criadora da Comissão Feminina para Mulheres e Crianças Refugiadas (órgão vinculado ao Comitê Internacional de Resgate), tendo viajado com esse propósito para vários países do Sudeste Asiático e da África Ocidental (pra saber um pouco mais sobre os países do Sudeste Asiático, leia Eu sou Malala, que eu já resenhei).

Na época em que adoeceu, a mãe do Will estava empenhada num projeto no Afeganistão, para a construção de um centro de cultura nacional e biblioteca na Universidade de Kabul, além de bibliotecas itinerantes que levassem livros em dari e pashto, para o interior do Afeganistão, onde muitas pessoas nunca haviam visto um livro, ainda mais um livro na própria língua. Mesmo doente, necessitando de repouso, Mary Anne não deixou de lutar pelos seus sonhos e ideais, buscando doações para a construção da biblioteca, recebendo e ajudando famílias refugiadas.

É claro que você poderia fazer mais – sempre pode fazer mais e deveria fazer mais –, mas mesmo assim o importante é fazer o que pode, sempre que pode. Você apenas faz o seu melhor, e isso é tudo o que pode fazer. Pessoas demais usam a desculpa de que acham que não podem fazer o suficiente, por isso decidem que não têm que fazer nada. Nunca há uma boa desculpa para não se fazer nada – mesmo se for apenas assinar alguma coisa, ou mandar uma pequena contribuição, ou convidar uma família de refugiados recém-assentada para a Ação de Graças.”

Esse livro me tocou muito, provocando reflexões sobre diversos pontos que eu vou tentar contar para vocês. Primeiramente, é um livro sobre escolhas de vida. Sobre ter coragem para mudar, seja de relacionamento, emprego, país, carreira... mas tendo consciência que muitas pessoas não tem esse privilégio de escolher ou não essas mudanças. A família de Mary Anne tinha esse privilégio de escolha, por exemplo, Will e sua irmã puderam repensar suas escolhas profissionais, a própria Mary Anne, num momento da vida, largou o emprego para trabalhar num campo de refugiados. Mas, do outro lado da moeda, muitas das pessoas que Mary Anne conheceu no seu trabalho humanitário só tinham como opção lutar pela sobrevivência.

Ter o domínio desses aspectos de nossa vida é um privilégio que precisamos ter consciência, e que coloca questões éticas sobre nossas escolhas: é o melhor que eu posso fazer? Estou sendo sincero com meu sonhos e com meus anseios? Qual o impacto das minhas escolhas para as pessoas ao meu redor? Se eu morrer amanhã, vou me arrepender dessas escolhas? Acho impossível alguém ler esse livro sem ser tomado por algumas dessas perguntas.


Outro ponto que o Will Schwalbe aborda e que me emociona é a capacidade que os livros tem em despertar empatia pelo o outro, por nos fazer viver um pouco na pele daquele personagem, tendo experiências que de outra forma nunca teríamos, e ao mesmo tempo nos faz perceber que aquele personagem é tão humano quanto nós mesmos. A literatura nos humaniza. E foi legal perceber que o Will e sua mãe buscavam livros fora do eixo EUA-Inglaterra, buscavam outros relatos, outras culturas, outras vivências. O que me fez pensar sobre o número pequeno de autores nacionais que eu leio, e a predominância entre os livros internacionais de autores estadunidenses e ingleses. Quanta coisa eu devo estar perdendo! E foi curioso ir avançando na leitura e ir descobrindo livros e autores que eu nunca ouvi falar, e só uns pouco conhecidos, pois me passou a sensação de que não estava naquele clube do livro, que ainda precisava repensar minhas escolhas (tanto literárias, quanto de vida) para me sentir parte de fato daquele clube do livro. Mas fiquei felizona por eles terem lido “Os homens que não amavam as mulheres” do Stieg Larsson, e que também ficaram fãs da Salander.

Todos temos muito mais para ler do que podemos ler, e muito mais para fazer do que podemos fazer. Mesmo assim, uma das coisas que aprendi com minha mãe é isto: Ler não é o oposto de fazer; é o oposto de morrer.”

Ler esse livro foi uma experiência maravilhosa, mas com uns contratempos durante a leitura pela quantidade de erros de digitação. A revisão desse livro mandou mal, deixou passar muita coisa, o que me incomodou bastante (puxa, a revisão foi feita por três pessoas!!! Como conseguiram deixar passar tanto erro???). Mas, apesar desses problemas, recomendo a leitura.

E claro, fiquei doida de vontade de participar de um clube do livro!



O Clube do Livro do Fim da Vida foi publicado no Brasil pela editora Objetiva e tem tradução de Rafael Montovani.



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